segunda-feira, 18 de abril de 2011

Não merece um título

          Ainda era cedo, apenas 20 anos, andando pela rua, mas pra muitas coisas já era tarde. Por isso agora se encaminhava para a universidade com aquele papel com a letra mais bonita que ele jamais poderia um dia reproduzir, mesmo que ainda fossem desajeitadas e garranchosas. Essas letras formavam pequenas linhas chamadas versos e a cada quatro daquelas ele pulava uma linha para fazer suas estrofes, sempre nos quartetos. 
           Gostava de quadrados, pois sempre que se acostumava a ver de um ponto de vista, estava na hora de mudar. Coisa que não se podia fazer com o círculo, onde todo momento tem que estar pronto pra ver uma coisa diferente, achava que isso faria com que perdesse o gosto pelo susto, a surpresa de ver uma coisa inusitada. Teria tempo para assimilar as coisas e aprender a olhar pra frente até que tenha que mudar seu caminho. "Não há pessoas que andam sempre em linhas retas, você sempre vai parar onde começou, mas sempre diferente. De uma ideia, para uma memória!" Sempre voltará pro ponto de origem..
          Cada um de seus versos era composto de uma redondilha menor, gostava do número 5, estava sempre bem neutro e raramente dificultava os cáculos. Não via porquê a vida deveria ser complicada, se ela realmente devesse ser levada a sério, não teria fim, nem gente ganhando ou perdendo....
           Você não precisa saber quantas estrofes tinha... Mas Ele sabia que seu poema não estava completo, então tentava apagar de sua mente o fato de que seu final não estava certo, sua rima era pobre, seus versos não eram quatro, e sua redondilha não era menor. Continuou a andar. Na sua ansiedade, esqueceu de ônibus, foi a pé. Sua mente estava ocupada demais para estabelecer um caminho lógico, então seus pés o levavam para algum lugar que fosse o início. Caminhava... Quase ele não é atropelado por um carro, que provavelmente pertencia a alguém que provavelmente passou sua madrugada acordado, como ele, e que provavelmente sofria o mesmo drama que ele, o medo da probabilidade de não ser aceito por quem ama, mas cada um tem sua maneira de lidar com a dor... Eu provavelmente invento um personagem que provavelmente vive as minhas inseguranças num monitor, provavelmente de LCD, de tubo ou cristal líquido, cristal líquido... E apesar de tudo isso, provavelmente ainda pensa demais nas probabilidades
          Talvez nem tenha se assustado, pois provavelmente vivendo o seu drama interno não atentou para o fato, mas alguma coisa o fez lembrar, que esqueceu de alimentar o gato, mas ele sobreviveria até o fim de da aula. Lembrou que o dia anterior(domingo), tinha sido o aniversário da mãe com a qual há muito tempo não falava e que talvez nem considerasse mais uma mãe. Começou a notar que no seu desespero, ansiedade e insegurança deixou de notar as coisas, mas tudo se esvaiu quando sua mente se voltou novamente para o papel em seu bolso, agora sabia como era para ser seu final, pensou em pegar uma caneta na mochila que carregava em suas costas, mas não podia mais se mexer, nem para salvar o seu poema de ser manchado pelo próprio sangue.

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